Vivemos no mundo do imediato. Vivemos das línguas e das ciências, do certo e do errado, presos na rotina e na mediania. Perdemos de vista a irreverência e a importância da diferença. Se a arte reflete a vida, então, no meio desta exatidão incerta, onde cabe a arte e aqueles que dela vivem?

A Cultura portuguesa está em rutura, está silenciada. Não por falta de palavras, mas porque está rouca de tanto gritar sem que ninguém a ouça. Os artistas não recebem apoio para realizar os seus projetos, deitam-lhes a vida ao lixo juntamente com os rascunhos.

Decidir seguir artes é suficiente para ser motivo de piada entre amigos. Temos todos estes estigmas plantados em nós desde uma idade muito tenra. Ouvimos dizer que artes é para quem não faz nada e quer fugir da matemática. A cada trabalho há pelo menos cinco pessoas a jurar que fariam melhor. A cada folha que gastamos encontramos uma insegurança e um novo preconceito para debater.
No entanto, pior do que os julgamentos dos outros são os nossos próprios, que vemos a cultura e a arte doentes e cansadas.
Enquanto aluna de artes visuais receio o futuro, por não saber se poderei viver daquilo que me realiza pessoal e profissionalmente. Dedicamos grande parte da nossa juventude a remar sem uma rota convencional, num dos passeios mais bonitos que o currículo escolar oferece, para no fim percebermos que estivemos a vaguear sem destino.

É preciso dar espaço ao traço e à mancha, no meio das letras e dos números. É essencial incentivar a arte e a cultura. Permitam aos alunos remar em sentido. Deixem os artistas mostrar-lhes o caminho.